Formada em Agronomia em 1952 pela Universidade Federal de Pelotas, então chamada Escola de Agronomia Eliseu Maciel, Odette Liberal, aos 97 anos, construiu um legado notável de 54 anos de trabalho no setor de sementes no Brasil. Logo após concluir seus estudos, foi convidada a integrar o Ministério da Agricultura, onde iniciou um trabalho de melhoria da qualidade de estudos que abrangeu todo o país. Em seguida, foi chamada para atuar no laboratório responsável pela análise de sementes dos três estados da região Sul. Reconhecendo seu esforço, pesquisadores norte-americanos vieram ao Brasil para ministrar cursos sobre o tema. Contudo, a senhora Odette via a necessidade de compartilhar toda a informação que adquiria a mais pessoas ligadas ao campo.
Na época, o ministério solicitou que as sementes fossem distribuídas pelos pesquisadores. Tarefa que deveria ser feita em todo território brasileiro. Era o resultado de pesquisa sendo oferecido gratuitamente ao produtor, e a senhora Odette, junto com um grupo de pesquisadores cumpriu essa missão: espalhou sementes pelo Brasil.
Engana-se quem pensa que foi fácil colocar na cabeça do produtor rural que a pesquisa era necessária para o campo. Quando o grupo voltava para ver o resultado do plantio não era o esperado. “Sabe o que descobrimos ?” perguntou ela, “que os agricultores cozinhavam as sementes e comiam. Quando eu perguntava das sementes que tinha dado para o produtor ele respondia que a esposa tinha achado boa para cozinhar e ainda me dizia: sabe que são gostosos mesmo?”, conta a senhora Odette.
Diante de todos esses avanços, a agrônoma Odette Liberal viu a necessidade de conscientizar os agricultores sobre as inovações e estudos no setor de sementes. Assim, em 1970, ajudou a fundar ABRATES (Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes), e foi a primeira presidente da associação. A ABRATES nasceu com o objetivo de promover o debate e a troca de pesquisas relacionadas às sementes. “Quando organizamos o primeiro congresso, já havia pessoas das universidades interessadas em apresentar trabalhos de pesquisa, e, a partir daí, fomos crescendo, até se transformar nessa associação maravilhosa”, afirma ela.
Odette Liberal fez questão de comparecer ao XXII Congresso Brasileiro de Sementes, onde recebeu uma homenagem da ABRATES tendo o nome dela no auditório principal. Odette disse que ficou honrada. “E sabe o que mais? Me sinto rejuvenescida estando nesse congresso e vendo tanta gente dedicada à pesquisa de sementes”. Além disso, ela se diz satisfeita quando vê que as mulheres tem enriquecido o setor com seu trabalho e conhecimento.