A semente de uma grande história
05/02/2017

Presidentes ABRATES OdetteHá 45 anos, no dia 18 de setembro de 1970, em Recife (PE) surgiria, timidamente, a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes, ABRATES. Fundada pelo ímpeto da pesquisadora Odette Liberal com o apoio de outros colegas durante o III Seminário Brasileiro de Sementes, a associação deu naquela época os primeiros passos que a levaram rumo à sua consolidação nos dias de hoje.

Apesar de ter sido a única mulher em sua turma na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - FAEM, de Pelotas (RS), Odette relembra ter sido escolhida para presidir a associação dentre tantos outros profissionais, pois na época era a mais qualificada. Segundo ela, o fato de ser mulher em um meio que era tão masculino não se tornou um peso e tampouco um fato para se vangloriar.

Como já havia dito em entrevista anterior, seu relacionamento com o setor sementeiro se deu em meados da década de 1960, quando aceitou o convite do colega Clovis Terra Wetzel, para chefiar o recém-criado Laboratório de Análise de Sementes (LAS), em Pelotas, ligado ao Instituto Agronômico do Sul (IAS). Na mesma época, o governo federal dava início ao Plano Nacional de Sementes (PLANASEM). “No LAS, fazíamos as análises [de sementes] dos três estados do sul. Depois realizávamos o planejamento e fiscalização de laboratórios estaduais nas três regiões e, mais tarde, os cursos oferecidos pelo grupo de pesquisadores do PLANASEM do IAS e pelos profissionais do LAS formaram agrônomos e biólogos para planejamento, análise e fiscalização de laboratórios de todo o país”, recorda Odette.

Apesar de relembrar a época com nostalgia, a pesquisadora admite que o trabalho não foi fácil. “Nosso principal problema enquanto Associação era a comunicação. Tudo era via Correio, muito diferente do que se vê hoje. Nós também não tínhamos verba, tudo saia do nosso próprio bolso”, conta.

A integração entre os órgãos do governo também deixava a desejar e dificultava a atuação da Associação. “Naquela época a agricultura no Brasil era feita isoladamente, não havia a Embrapa, não havia laboratórios de sementes - só em Campinas - e a semente não era certificada porque não tinha quem fizesse esse trabalho”, relembra.

No entanto, apesar dos percalços, a primeira gestão da ABRATES foi essencial para que a Associação chegasse ao patamar de importância e representatividade que tem hoje. “Nós não vimos naquela época, vimos hoje, com a consolidação da ABRATES, que nossa maior conquista foi iniciar o despertar da consciência no Brasil para o problema das sementes. Até então, grão e semente era a mesma coisa. Ninguém estava ligando para o rendimento. Hoje nós sabemos que uma semente cheia de impurezas só rende o que é puro”, afirma.

Em 1973, Odette encerrou sua gestão enquanto presidente da ABRATES. Para ela, fazer parte da história da Associação é motivo de muita felicidade. “Eu me encho de orgulho, na verdade, pelo que os outros fizeram, não por mim, porque aquilo já passou. Mas me sinto muito honrada, principalmente por ter dado o primeiro pontapé nessa Associação que se transformou nessa fortaleza. Eu costumo dizer que quando eu semeei aquela semente eu nem a conhecia bem e, quando me dei conta, ela se frutificou de uma maneira que eu nem esperava”, alegre, finaliza.