Já imaginou controlar uma planta daninha, ou a ação de um inseto ou fungo, com total especificidade, sem efeitos colaterais em nenhum organismo vivo do ambiente, que não seja o alvo? Técnicas de controle de pragas e doenças baseadas na interferência por RNA (RNAi) permitem essa precisão e podem ser uma alternativa ao controle químico.
Para o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Eduardo de Andrade, a segurança é uma das maiores vantagens dessa tecnologia. “É possível controlar apenas a espécie desejada sem afetar outras, principalmente as benéficas - como espécies que se comportam como inimigos naturais desta praga, ou mesmo polinizadores como abelhas e borboletas. Além disso, é possível realizar análises preliminares para saber se haverá risco de afetar espécies não-alvo”.
Outro aspecto positivo, abordado durante sua palestra no XX Congresso Brasileiro de Sementes, é a possibilidade de tratar mais de uma praga de forma simultânea, “mesmo se tratando de um inseto e um fungo, pode-se desenhar uma molécula de RNA que contenha a parte da sequência de um gene de um inseto e parte da sequência de um fungo, de modo a afetar estes dois organismos”, conclui.
Outra possibilidade de aplicação futura para a tecnologia é a criação de produtos comerciais que contenham as moléculas de dsRNA para serem utilizados via pulverização. Neste caso, o produtor poderia, por exemplo, aplicar na lavoura para “combater” a resistência de determinada planta daninha aos herbicidas disponível. “Até algum tempo atrás, o custo de se produzir artificialmente grandes quantidades de dsRNA tornava a tecnologia inviável. Este gargalo aparentemente foi superado, e não acredito que o custo de produção será alto”.
Plantas melhradas a partir desta tecnologia j;a estão disponíveis no mercado. Recentemente foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biotecnologia (CTNBio) para comercialização no Brasil, a primeira variedade de milho com resistência a insetos mediado por RNAi. A planta é resistente à larva-alfinete, inseto que não tem grande relevância nas lavouras brasileiras, mas provoca severos danos nos Estados Unidos, onde foi desenvolvida a variedade.
Vale ressaltar que ainda não existe uma regulamentação do governo brasileiro quanto ao uso de produtos comerciais contendo tecnologia RNAi. No caso de plantas transgênicas contendo a tecnologia, estas são regulamentadas pela CTNBio.
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