Inovação, tecnologias digitais e cultura da soja foi a temática central do VIII Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja), realizado pela Embrapa Soja, de 11 a 14 de junho, em Goiânia (GO), para mais 2300 congressistas. A programação científica esteve pautada nos desafios de produção da cadeia produtiva da soja e nas inovações para a cultura da soja.
A produção de sementes não ficou de fora da discussão. O tema foi debatido durante o painel “Avanços e Desafios na Produção de Sementes de Soja”. O painel, sob a moderação do pesquisador da Embrapa Soja e membro da ABRATES, Dr. Ademir Henning, contou com três palestras.
- Nova era para produção de sementes: desafios e novas ferramentas, proferida pelo pesquisador da Embrapa Soja e diretor financeiro da ABRATES, Dr. José de Barros França-Neto.
- Inoculação de sementes: verdades e mitos, com a pesquisadora da Embrapa Soja, Drª. Mariangela Hungria.
- Visão do produtor: desafios e gargalos, proferida pelo produtor e membro da AGROSEM, Engº. Agrº. Antônio Pimenta Martins.
A produção de sementes para grandes culturas, em especial para a soja, passou por uma grande evolução. O que possibilitou produzir semente de soja de qualidade em condições que seriam consideradas impossíveis há uns anos atrás.
Dados de pesquisa demonstram que lavouras originadas com sementes de alto vigor e estabelecidas com alta plantabilidade poderão apresentar ganhos de produtividade de até 10 a 12%. “Um ganho significativo ao produtor e que vem “de graça” junto das sementes de qualidade.”, destaca Dr. França-Neto. “Resultado da congregação de diversos fatores, que envolvem as pesquisas pública e privada, culminando no desenvolvimento de novas e aprimoradas tecnologias de produção e de análise de sementes, que foram prontamente adotadas pelo setor produtivo.”
Segundo o pesquisador, ainda há um longo caminho a trilhar. Conscientizar os produtores rurais e assegurar a capacitação constante dos envolvidos na cadeia sementeira são parte crucial do desafio. “Uma grande parte dos produtores ainda encaram a sementes como mais um insumo e não prezam por sua qualidade na hora de sua aquisição. Lançam mão de sementes não oficiais e ilegais, as “sementes piratas”, que não apresentam garantia alguma, gerando grandes reduções de produtividade e muitas vezes levam ao replantio, prática essa que traz sérios prejuízos aos produtores.”
Para Dr. França-Neto, a exigência por parte dos sojicultores tem aumentado, o que estimula o produtor de semente à investir em tecnologia e qualidade. “O depoimento do produtor de sementes de soja, Antônio Pimenta, demonstrou o quanto o setor tem investido em tecnologias de produção e de análise de sementes, visando à produção de sementes da mais elevada qualidade, apresentando também novos desafios que devem ser vencidos para o aprimoramento constante dessa qualidade.”, concluiu.
Inoculação de Sementes
Para a pesquisadora Drª. Mariangela Hungria, é preciso considerar o quando já se avançou desde a década de 1950, nos esforços conjuntos para que se tivessem bactérias compatíveis com nossas condições de clima e solo. No entanto, alguns mitos e práticas podem colocar em risco esses avanços.
Por exemplo, a crença de que não é preciso inocular “áreas velhas”, cultivadas com soja e que já receberam inoculantes. “Não é verdade, pois mais de 300 ensaios de pesquisa foi demonstrado que, em média, a reinoculação anual resulta em um incremento médio de 8%. E 8% significa muito lucro para o agricultor”, explica.
Para a pesquisadora, outro hábito a ser combatido é a produção caseira de inoculantes. “O inoculante, embora seja um insumo barato, requer alta tecnologia e ambiente estéril para ser produzido. Nas análises que temos realizado de “inoculantes caseiros”, temos observado que, inclusive, existe risco à saúde”, alerta.
Drª. Mariangela Hungria alerta que é preciso ampliar o olhar e compreender que os benefícios dos microrganismos vão muito além da inoculação da soja. “A soja não cresce sozinha, ela é seguida do milho, do trigo, da braquiária, de outras culturas, enfim, tem-se que pensar no “sistema soja”. Há pesquisa e estirpes de bactérias para outras culturas. Grandes incrementos no rendimento estão comprovados para as culturas do milho, trigo e braquiárias pelo uso de Azospirillum. E, desde 2014, o uso da coinoculação da soja com Bradyrhizobium e Azospirillum tem tido grande sucesso. Se o incremento médio pela reinoculação anual da soja é de 8%, com a coinoculação esse valor sobe para 16%, um grande “micro” sucesso”, celebra.