O engenheiro agrônomo, diretor da Infrapar Capital Partners, Marco Antônio Fujihara, trouxe alguns dados obtidos em 2022, pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da PR, bem significativos em relação à degradação do solo brasileiro. No Brasil, existem 159 milhões de hectares de pastagens, sendo que 63%, ou seja, 99 milhões de hectares estão degradados. Desses 99 milhões de ha, 41% (65 milhões de ha) tem degradação intermediária e 22% (34 milhões de ha) com degradação severa. De acordo com ele, levantamento do Banco do Brasil aponta custo na ordem de R$ 116,1 bilhões para recuperação das pastagens degradadas.
Quando falamos em efeito estufa, sabe-se que o Brasil é o quinto maior emissor de gases do mundo. Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), 49% das emissões totais são por mudanças de uso da terra e queima de resíduos florestais. Porém, desses 49%, as alterações de uso do solo representam 92,2% e os resíduos florestais têm responsabilidade de 7,8%.
Dentro desse cenário, Fujihara mostrou que a revitalização das áreas degradadas visa, por exemplo, o aumento da produtividade dos solos, a recuperação da biodiversidade e a redução da pressão sobre novas áreas.
Existem algumas decisões práticas a serem tomadas e uma delas é a utilização das sementes forrageiras, para fazer a retenção do carbono. “A forrageira é a base da recuperação da área degradada. Se você plantar a forrageira, você consegue recuperar essa área degradada muito mais depressa, em vez de 5 anos, leva 2 anos”, comparou Fujihara.
Ele apresentou no Simpósio uma área recuperada no Mato Grosso por meio da utilização das forrageiras. “Era uma fazenda de 5 mil hectares que estava semidesértica. Fizemos todo o processo de recuperação com forrageiras. As forrageiras é que fizeram a recuperação daquela área”, destacou.
Porém, esse tempo de recuperação tem um custo alto, e muitas vezes o produtor não consegue fazer o processo, que dura em média, 2 anos. Segundo Fujihara, esse é o maior desafio.
Mercado de Forrageiras
De acordo com o Coordenador do Comitê de Forrageiras da ABRASEM (Associação Brasileira de Sementes e Mudas), Marcos Roveri José, estima-se que o mercado de forrageiras fechou o ano de 2023 na média de R$ 5 bilhões. Na visão dele, esse número expressivo deu-se devido à integração lavoura-pecuária. “Hoje já temos uma agricultura muito forte trabalhando dentro desses sistemas integrados de produção”, disse.
De acordo com Roveri, a braquiária e a russians são as espécies de maior produção. “Tem a questão da retenção do carbono, que é o que mais prega hoje, então a inserção da forrageira dentro do sistema é fundamental, você não tem um outro sistema tão capaz, tão pujante, igual a inserção de forrageiras”.
Durante o debate, Roveri ainda disse que o setor ainda precisa de mais dados oficiais e políticas públicas.
Evolução tecnológica
A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte e organizadora do V Simpósio Brasileiro de Sementes de Espécies Forrageiras, Jaqueline Verzignassi, ressaltou que o setor tem ligação com a economia, a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade econômica. Reforçou também que o uso da semente forrageira não é exclusivamente mais uma pastagem, mas é um grande negócio.
O setor também tem uma evolução na tecnologia. “Tem tecnologia industrial, tecnologia de preparo de sementes, de superação de dormência, tem tecnologia de colheita”, explica Jaqueline..
Segundo ela, o simpósio abordou inovações na produção de sementes forrageiras e na indústria, além de oportunidades de negócios que visam garantir a sustentabilidade. “O simpósio teve a participação de produtores, pesquisadores, representantes de grandes associações de produtores e fomentadores de pesquisa, que debateram estratégias mais efetivas e abrangentes de implementação de normativas para a produção e mercado de sementes”, disse Jaqueline.
Normativas precisam de atualização
Izabela Mendes Carvalho, coordenadora geral de sementes e mudas do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) disse que tem uma lista de normativas que precisa ser atualizada. Segundo ela, o trabalho iniciou, mas ainda não tem previsão de conclusão. Em relação especificamente às sementes forrageiras, Izabela observa que essas espécies apresentam muitas peculiaridades e particularidades. “A gente tem a questão com relação à importação, ao desenvolvimento de materiais, de cultivares registradas, a questão do processo produtivo, precisamos ter algumas especificações”. A coordenadora do MAPA lembra que a pasta publicou a Lei 14.515, no final de 2023, instituindo o Programa de Autocontrole que ainda precisa ser regulamentado. “Estamos trabalhando com a regulamentação dessa lei para, depois disso, começar a rever as normas específicas”.