No Dia da Semente, celebrado em 21 de agosto, a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates) destaca o papel estratégico das sementes para a produtividade e a sustentabilidade no campo. Com atuação integrada, os quatro comitês da entidade -Sementes Florestais, Sementes de Espécies de Forrageiras, Patologia e Análise de Sementes - formam um elo decisivo para impulsionar inovação, recuperar ecossistemas e fortalecer a agricultura brasileira.
No campo da restauração florestal, a coordenadora do Comitê de Sementes Florestais, Bárbara França Dantas, ressalta que o Dia da Semente vai muito além da celebração. “A data representa uma oportunidade de conscientização da sociedade sobre o papel essencial das sementes — cultivadas, florestais nativas ou exóticas — na manutenção da biodiversidade, na restauração ecológica e na segurança ambiental”, analisa.
Segundo ela, a data também valoriza diferentes elos da cadeia, como coletores comunitários de sementes nativas e empresas que produzem espécies florestais exóticas. “O movimento em torno da data ajuda a aproximar ciência, políticas públicas e produtores, conferindo visibilidade à urgência de conservar espécies ameaçadas e fortalecer cadeias produtivas sustentáveis, como a restauração, os sistemas agroflorestais e a integração lavoura-pecuária-floresta”, pontua.
Nos últimos anos, tecnologias inovadoras vêm transformando a coleta, o beneficiamento e o armazenamento de sementes florestais no Brasil. Segundo Bárbara, a coleta de sementes já conta com geotecnologia, GPS e drones, enquanto o beneficiamento avança com mecanização e equipamentos adaptados. Tecnologias como aprendizado de máquina, análise de imagem e espectrometria também começam a transformar a avaliação da qualidade fisiológica.
Avanços como o teste de tetrazólio, a criopreservação e pesquisas em armazenamento sob hipoxia reforçam a conservação de sementes florestais, que agora ganharam capítulo próprio nas Regras de Análise de Sementes (RAS).
Assim como o Comitê de Florestais traz contribuições para a restauração ecológica, o Comitê de Patologia de Sementes (Copasem) desempenha papel estratégico na proteção da sanidade, aspecto essencial para a produtividade agrícola. Sua coordenadora, Norimar D’Ávila Denardin, destaca a qualidade das sementes como um dos pilares da agricultura moderna, mas sua sanidade ainda representa um desafio constante no Brasil. “Fungos, bactérias e vírus podem ser transmitidos desde o campo até o armazenamento, comprometendo a germinação, o vigor e, por consequência, a produtividade”, observa.
Segundo Norimar, em culturas estratégicas como soja, milho e trigo, o controle de doenças transmitidas por sementes segue sendo uma preocupação permanente de produtores e pesquisadores. Os avanços no diagnóstico de patógenos combinam técnicas tradicionais e moleculares. Métodos como a PCR e o sequenciamento de DNA são rápidos e precisos, enquanto testes tradicionais como o papel-filtro (Blotter Test) seguem fundamentais pelo baixo custo e aplicabilidade em larga escala. “A escolha do método depende sempre do objetivo da análise e da complexidade do patógeno investigado”, explica.
Complementando esse trabalho, o Comitê de Análises de Sementes garante, por meio dos laboratórios, que apenas lotes dentro dos padrões de qualidade cheguem ao campo. Sua coordenadora, Valquíria de Fátima Ferreira Mavaieie, destaca que a atuação vai além da avaliação técnica. “Os laboratórios também atuam em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária no combate à pirataria, rastreando tentativas de comercialização de sementes irregulares”, afirma.
Segundo Valquíria, sempre que os laboratórios realizam análises para produtores, é necessário reportar os resultados ao órgão oficial. “Se atendemos alguém que não possui Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas), por exemplo, essa informação é comunicada ao Ministério, que pode abrir investigação. Dessa forma, qualquer tentativa de comercializar sementes piratas é rastreada”, explicou
Nos últimos anos, o setor tem passado por avanços tecnológicos importantes. Um dos destaques é o uso de ferramentas de análise de imagem, que permitem observar características mais detalhadas das sementes. No entanto, apesar do avanço, ela pondera que esses equipamentos devem ser considerados complementares: “Eles ajudam bastante, mas nada substitui o olhar clínico de um bom analista, bem treinado. O ideal é usar a tecnologia como apoio, sempre associada a testes complementares”, reforça.
Outro marco para o setor, que ela destaca, foi a atualização das Regras de Análise de Sementes, publicada em 2025. O documento anterior era de 2009 e já não refletia práticas atuais. “Muitos procedimentos em desuso foram retirados e outros, já aplicados rotineiramente nos laboratórios, foram incorporados oficialmente. Essa padronização é essencial para garantir uniformidade, independentemente de onde a análise seja realizada.”
A capacitação de profissionais aparece como outro ponto importante. A coordenadora destacou a necessidade de treinamentos constantes, tanto para novos analistas quanto para os mais experientes, que precisam de reciclagem periódica. “Cada safra traz novos desafios, relacionados às condições climáticas e às adversidades enfrentadas pelas sementes. É fundamental ter equipes bem alinhadas e preparadas. Além disso, precisamos formar jovens profissionais, já que muitos analistas estão próximos da aposentadoria”, enfatiza.
O Comitê de Sementes de Espécies Forrageiras destaca que o Brasil é líder mundial na produção, consumo e exportação de sementes de forrageiras, com mercado de R$ 1,3 bilhão ao ano e produção superior a 100 mil toneladas em 150 mil hectares. Cerca de 20% desse volume é exportado para mais de 20 países.
Apesar dos avanços, a cadeia ainda enfrenta desafios ligados à baixa qualidade do produto, reflexo de técnicas rudimentares e fiscalização limitada. A pressão por um mercado mais exigente vem impulsionando a adoção de novas tecnologias e sistemas de produção mais especializados. O debate atual busca soluções que aumentem a qualidade, a produtividade e a competitividade das sementes forrageiras brasileiras.