Embrapa e Abrates alertam: uso de sementes próprias pode comprometer resultados
05/02/2017

                                            

EMBRAPA

A semeadura de mais uma safra de soja está se aproximando. Com as perspectivas de preços da soja inferiores em relação aos anos anteriores e com os constantes aumentos do custo de produção, o sojicultor está muito apreensivo, estudando todas as possibilidades de baixar ao máximo esses custos.

“Com certeza, o produtor deve economizar ao máximo, porém deve ter sempre em mente que o uso de semente de soja de alta qualidade é de fundamental importância para o sucesso da lavoura. Todo o investimento do produtor poderá estar comprometido, bem como o sucesso da lavoura, caso as sementes utilizadas não sejam de alta qualidade. O sojicultor deverá ter muito cuidado nessa hora”, afirmou o pesquisador da Embrapa Soja e presidente da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (ABRATES), José de Barros França Neto. Romeu Afonso Kiihl – engenheiro agrônomo, pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso do Sul e pesquisador da Tropical Melhoramento Genético (TMG) – também defendeu o uso de sementes de qualidade: “Semente certificada tem garantia de germinação mínima. Quando ela é mais barata, sem origem e tecnologia conhecida, o agricultor corre riscos. Eu considero isso uma economia perigosa”.

Segundo Kiihl, boa parte dos produtores considera as sementes que estão no mercado caras. Mas ele explica: “o que custa é o que vem junto com a semente: suas tecnologias, tratamentos e patentes. E aí quando o produtor opta por usar sementes próprias ele tem a impressão de que está fazendo economia, mas não está. Uma hora ou outra o custo vai surgir – se não for no momento de investir em uma semente de qualidade, vai ser na hora de cobrir os custos gerados por uma lavoura fraca”.

O uso de sementes próprias é legal: mas é importante que todos os procedimentos de registro dos campos de produção tenham sido realizados junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). “A legislação permite que o produtor use sementes próprias em determinados padrões. É preciso armazenar essas sementes de forma correta e, antes de semeá-las, é imprescindível se certificar de que não houve nenhuma mistura, de que não há ataque de percevejos, pragas ou doenças, além de observar o desempenho da cultura no campo”, alertou o engenheiro agrônomo Sergio Paulo Coelho, do MAPA.

Além disso, o sojicultor deve ter a certeza de que as sementes próprias, que por ventura venham a ser utilizadas, efetivamente sejam de alto vigor e germinação. Poucos são os sojicultores que detêm o conhecimento das tecnologias para a produção de sementes de soja de alta qualidade. Esse fato é preocupante, uma vez que as sementes próprias podem não apresentar esse nível de qualidade.

A qualidade da semente apresenta quatro importantes componentes: qualidade fisiológica - sementes com altos vigor e germinação; qualidade sanitária - sementes livres de patógenos transmitidos pela semente, que poderão ser a fonte de inóculo de doenças, e livres de sementes de plantas daninhas; qualidade genética - que garante que as sementes são geneticamente puras e livres de misturas com sementes de outras cultivares; e qualidade física - assegura uma semente pura, livre de material inerte e de contaminantes.

 Sementes de alto vigor propiciam a germinação e a emergência de plântulas em campo de maneira rápida e uniforme, resultando na produção de plantas de alto desempenho, que têm um potencial produtivo mais elevado. Plantas de alto desempenho apresentam uma taxa de crescimento maior, têm uma melhor estrutura de produção, com um sistema radicular mais profundo e produzem um maior número de vagens e de sementes, o que resulta em maiores produtividades.

Muitos produtores ainda não têm a perfeita noção dessas informações e de suas vantagens, e ainda creem que basta obter a população ideal de plantas, recomendada para cada cultivar, para que o estabelecimento e a produtividade da lavoura estejam assegurados. Isso, sem se levar em consideração o nível de vigor das sementes utilizadas na semeadura. Pode-se citar o exemplo daquele produtor que utiliza sementes de vigor médio ou baixo e ainda acredita que, com o aumento da densidade de semeadura, poderá obter o estande ideal de plantas para aquela cultivar. Isso pode até ser verdadeiro, porém será que as plantas que compõem essa população são de alto desempenho? Mesmo obtendo a população ideal de plantas, está tudo resolvido? Com certeza não! “Se a semente não tiver qualidade a safra será frustrada. É preciso fazer análises para identificar a qualidade de germinação e ficar atento à possibilidade de mistura. No campo a diferença é visível, pois o padrão é desuniforme – há soja madura e soja verde”, reiterou Sergio Paulo Coelho.

Dados de pesquisa comprovam que em nível de parcelas experimentais, podem-se obter aumentos de produtividade variando de 25% a 35% somente pelo uso de sementes de alto vigor. Em condições de lavouras comerciais, têm-se observado aumentos de produtividade de até 10% a 12%, com o uso de sementes vigorosas.

Fica, portanto, o alerta ao sojicultor: tenha a certeza de que as sementes que serão utilizadas para o estabelecimento de suas lavouras sejam de qualidade elevada, com alta germinação e elevado vigor, que assegurarão o sucesso da sua lavoura.