Essenciais na recuperação de áreas degradadas e no manejo florestal, produtores e coletores de sementes do País estão se tornando mais “visíveis” com a criação do Mapa de Sementes do Brasil, a maior plataforma brasileira de sementes nativas.
Pouco se conhece ainda sobre quem são e onde estão os que se dedicam à atividade, o que pode deixá-los de fora das estatísticas e do sistema nacional de regulamentação.
Desde que foi criado, em 2018, o mapeamento já reuniu informações de 1051 produtores e coletores, 156 pesquisadores, 21 laboratórios de pesquisas e oito redes e programas. A necessidade de reunir informações sobre a atividade em apenas um lugar é importante, inclusive para a formulação de políticas públicas.
O Mapa de Sementes é parte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), da estudante de Engenharia Florestal, Jaqueline Figueiredo de Almeida, pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação da professora Fatima Piña Rodrigues. O desenvolvimento da plataforma digital para interação dos diferentes atores da área de sementes florestais e a concepção do mapeamento foi do engenheiro florestal, Danilo Urzedo, pós-doutorado na Universidade de Cambridge e co-orientador da Jaqueline que realizou com o levantamento dos contatos.
Organizado pela Abrates
O Mapa de Sementes é organizado pelo Comitê Técnico de Sementes Florestais da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates). A coordenação atual do comitê (gestão 2015-2021) é da pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa - Centro Nacional de Pesquisa de Agrobiologia), Juliana Müller Freire.
Criado em 1984, o comitê visa auxiliar no desenvolvimento científico e tecnológico do setor de sementes florestais. A associação é presidida pelo pesquisador da Embrapa Soja, Francisco Carlos Krzyzanowski, Ph.D. em Tecnologia de Sementes pela Mississippi State University e pós-doutorado em Seed Physiology pela University of Florida (EUA).
Doutora em Ciências Ambientais e Florestais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Juliana Müller Freire destaca que o Mapa de Sementes facilita a troca de informações entre os elos da cadeia sementeira. “A reunião dessas informações, possibilita aproximar os diferentes atores da cadeia de restauração. Por exemplo, aqueles que querem restaurar matas ciliares ou encostas e morros de suas propriedades e que querem semear por meio da semeadura direta, necessitam do contato dos coletores e ou produtores de sementes regionais, para a aquisição ou serviço de coleta das sementes das espécies nativas da região. Os próprios produtores de mudas, às vezes, precisam adquirir sementes. A proposta é viabilizar esses diferentes contatos para uma melhor articulação”, explica Juliana.
Além de uma fonte de renda, a produção e coleta de sementes de espécies nativas contribui para a recuperação de áreas degradadas. Esses trabalhadores estão espalhados por regiões com diferentes biomas como Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado.
“O trabalho desses produtores e coletores é fundamental na preservação das espécies nativas. Os coletores ao realizarem o trabalho de coleta, consequentemente, trazem um benefício para a conservação destas espécies e disponibilização de suas semente”, avalia Juliana.
O número de produtores e coletores cadastrados no Mapa de Sementes é significativo, mas poderá ser maior. “Não temos um parâmetro para dizer ainda quantos devem ser os produtores e coletores de sementes no Brasil. Os produtores se inscrevem no site do Ministério da Agricultura (MAPA). Porém, os coletores se cadastram através de um formulário, que consta na Instrução Normativa número 17, de 2017. Quando tentamos procurar esses coletores é mais difícil. Só temos acesso digital aos que produzem sementes. Não conseguimos informações dos coletores com essa mesma facilidade, via MAPA, porque estão nas superintendências em arquivos de papel e não em formato digital. Por isso, ainda não temos uma real ideia da evolução da quantidade de coletores existentes no Brasil. Contudo, sabemos que temos muito mais coletores do que produtores”, afirma Juliana.
Ela acrescenta que os coletores têm o domínio da riqueza de informações locais, onde vivem e coletam as sementes, o que é importante para a recuperação e preservação florestal.
“Ao sabermos quem são e onde estão esses coletores, será possível acessar a riqueza de espécies nativas existentes, onde se pretende reflorestar. Quando não temos coletores e produtores conhecidos na região é preciso trazer sementes de espécies de localidades diferentes do país. Pode ser que, essas sejam regiões bioclimáticas diferentes e as espécies não sejam adequadas para o reflorestamento com nativas. A biodiversidade não é só o número de espécies, mas também a variabilidade genética, que ocorre nos indivíduos da própria espécie. A importância de conhecer esses coletores é, sem dúvida, conseguir ter um maior acesso às sementes das espécies autóctones, que possam garantir a preservação da biodiversidade local”, conclui Juliana.
SERVIÇO:
Para se cadastrar no Mapa de Sementes do Brasil, produtores e coletores devem acessar o endereço: https://www.sementesflorestais.org/mapa-das-sementes.html