A missão da Embrapa Hortaliças é contribuir para o crescimento, fortalecimento e diversificação da cadeia produtiva, consolidando a Unidade como uma referência nacional e internacional na geração e oferta de informações e conhecimentos científicos/tecnológicos. Esses compromissos institucionais da Embrapa Hortaliças têm contribuído na inovação e na sustentabilidade da olericultura brasileira por meio do efetivo aperfeiçoamento no ambiente produtivo, resultando em novos produtos, processos e/ou serviços.
A produção anual de hortaliças no Brasil é de aproximadamente 23 milhões de toneladas, cultivada em cerca de 900 mil hectares. Além do mercado de hortaliças propagadas vegetativamente (exemplos: alho, batata, batata-doce, mandioquinha-salsa e morango), existe um mercado vigoroso de sementes, um setor que movimentou, em 2022, R$ 1,4 bilhão com as diversas espécies olerícolas (ABCSem, 2023).
A Embrapa Hortaliças, em conjunto com parceiros privados, tem se destacado no desenvolvimento de diversas novas cultivares com atributos diferenciados tendo como foco a sustentabilidade econômica e ambiental dos cultivos e a segurança alimentar dos consumidores.
Exemplo disso é a oferta/disponibilização de um amplo e diversificado painel de variedades (linhagens, cultivares de polinização aberta e híbridos). Esse portifólio contempla cultivares mais produtivas, com resistência/tolerância múltipla a estresses abióticos/bióticos, biofortificadas e com características que valorizam as propriedades bioativas/nutracêuticas, com maior vida útil (tempo de prateleira) e menor perda pós-colheita, visando tanto o transporte a longas distâncias no mercado doméstico como para o mercado externo (exportação).
Outras estratégias de pesquisa em melhoramento genético incluem a exploração de diferentes tipos de hortaliças com formatos e cores inovadores, bem como arquitetura de plantas diferenciadas visando gerar novos nichos de mercado e otimizar a mão de obra disponível no campo, simplificando práticas de manejo e facilitando atividades de irrigação e de pulverização de defensivos agrícolas.
Nos 42 anos da Embrapa Hortaliças, cerca de 140 cultivares já foram disponibilizadas ao mercado nacional por meio dos programas de melhoramento genético, sejam eles convencionais ou utilizando ferramentas de biotecnologia e genômica. Novas cultivares estão a caminho obtidas pelo emprego de ferramentas de biologia molecular e seleção assistida por marcadores moleculares bem como novas cultivares cisgênicas/trangênicas e derivadas de edição gênica.
Um grande desafio, infelizmente, vivenciado pelo setor produtivo da cadeia de hortaliças está relacionado aos efeitos adversos das mudanças climáticas. Estrategicamente, a Embrapa Hortaliças já vem atuando de maneira a antecipar essa vertente, desenvolvendo cultivares resilientes a essas mudanças no clima e enfatizando a maior tolerância ao estresse hídrico e a altas temperaturas.
Novas oportunidades relacionadas com o desenvolvimento de cultivares para o sistema de cultivo protegido e ou em vertical farms (agricultura indoor) foram identificadas e a Unidade já vem atuando nesses temas. A Embrapa Hortaliças também tem contribuído para intensificar a escala de disponibilização de novos produtos, nesse sentido, as Plantas Alimentícias não Convencionais (PANCs) têm merecido destaque especial.
Com referência ao elo industrial da cadeia produtiva de hortaliças, a Embrapa Hortaliças tem intensificado a geração de cultivares que atendam as expectativas de fornecimento e padronização da matéria-prima para produtos processados ou minimamente processados.
Em adição a esses fatores, aumenta a exigência do consumidor para uma elevação da qualidade e conveniência das hortaliças, além de novas dietas. Assim, o desenvolvimento de novos produtos tem focado em opções para substituição de proteína animal, tais como as hortaliças leguminosas ou “pulses” (ervilha, lentilha e grão-de-bico) bem como produtos de menor tamanho e melhor qualidade, incluindo as mini-hortaliças (baby leaf, micro-green, brotos etc.) que são demandadas devido a tendência de redução no tamanho do núcleo familiar do Brasil. A estratégia adotada envolve a geração de tecnologias inovadoras e a viabilização de alternativas visando a redução e/ou substituição de importações (ainda frequentes para as “pulses”, alho, batata e cebola).
Finalmente, a Embrapa Hortaliças pode intensificar o seu papel estratégico, gerando materiais genéticos focados nos problemas do mercado nacional, atuando em parceria com empresas privadas nacionais ou estrangeiras radicadas no Brasil dentro do marco da Lei de Inovação. Desta forma, um futuro desafiador e promissor se vislumbra e a Embrapa Hortaliças está se estruturando para enfrentá-lo e vivenciá-lo com estratégia, talento e garra.
Warley M. Nascimento e Leonardo S. Boiteux, pesquisadores da Embrapa Hortaliças