Considerada uma etapa crítica na produção de sementes de soja, a colheita requer atenção e cuidados para garantir a qualidade e o potencial de semeadura. O doutor José de Barros França Neto, pesquisador da Embrapa Soja, em entrevista ao AgroMais, orienta sobre o manejo correto da lavoura.
Tudo começa com a escolha da semente, o que é a base do sucesso da produção. França Neto ressalta que, ao fazer a semeadura, são necessárias condições adequadas de temperatura, água e umidade.
“Esse embriãozinho, que é a semente, vai germinar, emergir e produzir uma planta. A qualidade da semente, associada às boas condições, é que vai garantir a produtividade. No caso da soja, dependendo desses fatores, nós temos cultivares em que vamos obter 180 mil plantas por hectare e outras cultivares até 400 mil plantas por hectare. Cada uma dessas plantas é originada por aquela semente”, explica o pesquisador.
França Neto descreve as características que a semente precisa ter: qualidade fisiológica, germinação e vigor, qualidade sanitária, genética e estar dentro da legislação brasileira de sementes.
O pesquisador destaca que, mesmo que o produtor produza a própria semente, o manejo precisa estar em conformidade com a legislação de sementes.
“No aspecto técnico, as tecnologias de produção de sementes são adequadas e diferentes da tecnologia de produção de grãos. Estamos preocupados em produzir um ser vivo. A semente é um embrião que precisa ser tratado com cuidado. A colheita, se não for bem-feita, pode quebrar a semente e, com isso, perderá capacidade de germinação e vigor, jogando fora todos os processos feitos para produzir a semente de qualidade”, ressalta.
França Neto lembra que a Embrapa coordenou por quatro safras, um levantamento da qualidade dos grãos e das sementes produzidos no Brasil.
“Em todos os estados brasileiros, o fator que mais afetou, negativamente, a qualidade da semente foi o dano mecânico causado na colheita. A colheita é um processo em que é preciso prestar muita atenção, trabalhar com alta tecnologia, máquinas apropriadas, bem reguladas e bem operadas”, orienta.
Ele acrescenta que na fase da colheita, o produtor deve pensar em colher o máximo de qualidade de sementes.
“O dano mecânico ocorre na operação de trilha. A planta ao ser processada, a semente sofre pressões, quando a vagem é friccionada para liberá-la, passando por impactos violentos. Porém, se as máquinas são bem ajustadas e operadas, temos exemplos de produtores com lotes colhidos com zero por cento de dano mecânico. Isso seria o ideal. Fizemos esse levantamento e vimos que o problema é sério. Naqueles estados e regiões em que verificamos que o problema era mais sério, junto com as associações de produtores de sementes do Brasil, fizemos treinamentos intensivos e, com o passar dos anos, o dano mecânico declinou drasticamente e, consequentemente, a qualidade, a germinação e o vigor da semente subiu porque é inversamente proporcional. Quanto menor o dano mecânico maior a qualidade da semente”, explica França Neto
O pesquisador lembra que a Embrapa completa 50 anos em abril, sendo que integra os quadros da empresa há 44 anos.
“A Embrapa propiciou uma mudança radical, juntamente com as instituições de pesquisa estaduais, privadas e universidades. O Brasil passou de grande importador de alimentos para um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. A Embrapa teve, tem e terá uma missão muito importante junto com todas essas outras instituições”, conclui o pesquisador. Confira a entrevista completa do doutor José de Barros França Neto no Youtube Todo cuidado na hora de colher as sementes de soja - YouTube) .