Soja Esverdeada - Soluções práticas para o problema do campo à UBS
06/08/2020

Na safra 2019/2020 tem se registrado a ocorrência de elevados índices de sementes de soja esverdeadas, em alguns casos superiores a 50%, em diversas regiões do país, principalmente no Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e do Paraná, sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. 

O pesquisador da Embrapa Soja e Diretor Financeiro da ABRATES, José de Barros França-Neto, responde aqui algumas dúvidas práticas para orientar os profissionais da cadeia sementeira sobre como lidar com este problema na prática, do campo ao comércio: 

1. Quais os principais fatores que resultam na produção de sementes de soja com a presença de sementes esverdeadas?

Diversos fatores contribuem para a produção de sementes de soja com a presença de sementes esverdeadas:

  1. ocorrência de seca associada a elevadas temperaturas (> 30 ºC) nas fases finais de enchimento de grãos e em pré-colheita. Essas condições resultam na morte prematura das plantas e na maturação forçada das sementes, há a desativação das duas principais enzimas associadas com a degradação da clorofila (magnésio quelatase e clorofilase), culminando na produção de altos níveis de sementes esverdeadas;

  2. diversas doenças, quando mal manejadas, podem resultar na produção de sementes esverdeadas, como por exemplo, a fusariose (causada pelo fungo Fusarium solani f. sp. glycines/Fusarium tucumaniae), a podridão radicular causada por macrofomina (Macrophomina phaseolina), doenças do colmo, como o cancro da haste (Phomopsis phaseoli f. sp. meridionalis.) e doenças foliares, como a ferrugem asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi). O intenso ataque de insetos, principalmente de percevejos sugadores, também pode implicar no aparecimento do problema;

  3. o manejo inadequado de lavouras de soja também pode provocar a produção de semente esverdeada, a distribuição inadequada de calcário ou de fertilizantes pode ocasionar problemas de maturação desuniforme, o que, por sua vez, resultará na colheita de semente imatura e esverdeada, mesclada com semente amarela e madura;

  4. outra prática de manejo que pode trazer esse problema é a dessecação em pré-colheita: semente esverdeada poderá ocorrer, caso o dessecante seja aplicado antes do estágio ideal (ponto de maturidade fisiológica – R7) ou quando a sua aplicação é realizada para corrigir situações em que exista desuniformidade de maturação de plantas;

  5. deve-se levar em consideração também a suscetibilidade genética dos genótipos de soja utilizados, uma vez que existem cultivares de soja que são mais suscetíveis que outros à expressão do problema.

A expressão do problema de sementes esverdeadas estará condicionada à ocorrência desses tipos de estresses bióticos ou abióticos e será mais intensa, caso associados com elevadas temperaturas.

2. Para o produtor de sementes que percebe ter sementes esverdeadas em seu lote, quais procedimentos pode adotar para "reduzir" o problema antes de enviar o lote para a UBS? 

Nas amostragens e análises realizadas em pré-colheita, níveis de até 9,0% de sementes esverdeadas poderão ser tolerados. Logicamente, o ideal seria ter 0,0% do problema. Ao constatar que níveis superiores a este estão ocorrendo, o ideal é não colher os campos para a produção de sementes.

3. Para o profissional da UBS que recebe um lote com sementes esverdeadas, quais os procedimentos indicados? 

A remoção de sementes esverdeadas de um lote pode ser realizada por equipamentos selecionadores de cores, que, apesar de caros, removem grande parte do sementes indesejadas. Existem no mercado diversas marcas e modelos desses equipamentos, que fazem a separação com base em uma, duas ou três cores e têm a capacidade de produção variando de 60 Kg a 5,0 toneladas por hora. 

Além disso, pelo fato das sementes esverdeadas serem menores, a classificação por tamanho pode resultar em melhoria da qualidade fisiológica do lote, pois a maior concentração de sementes esverdeadas ocorrerá nas menores classes de tamanho, que poderão ser descartadas. As sementes das classes maiores, por terem um menor porcentual de sementes esverdeadas, tenderão a apresentar melhores germinação e vigor. 

A separadora em espiral também pode auxiliar na remoção de sementes esverdeadas do lote, uma vez que muitas dessas sementes apresentam-se deformadas ou alongadas. Entretanto, a utilização da mesa de gravidade não é eficaz na remoção de semente esverdeada dos lotes de semente. Em situações em que o produtor de sementes se vê forçado a armazenar lotes de sementes com esse tipo de problema (logicamente em baixos níveis), sugere-se armazená-las em condições climatizadas (10-15 ºC, 60% UR), pois isso preservará a qualidade das mesmas durante o armazenamento.

4. Para o produtor comum, que encontra grãos esverdeados em sua colheita, quais procedimentos para diminuir as perdas? Quais os percentuais aceitáveis neste caso?

A presença de grãos esverdeados é também um problema para o sojicultor. Níveis superiores a 8,0% de grãos verdes são considerados como defeitos e descontos proporcionais à ocorrência deste problema serão aplicados ao preço pago ao produtor. Isso ocorre, uma vez que a produção de óleo tem custo aumentado devido à adoção de práticas especiais de filtragem e de remoção da clorofila do óleo produzido.

5. Como prevenir o problema em safras futuras?

Diversos fatores contribuem para a produção de sementes de soja com a presença de sementes esverdeadas e cuidados especiais deverão ser tomados para prevenir a ocorrência do problema:

  1. o bom manejo do solo, com adoção de práticas que preservem mais água no perfil do mesmo, se adotadas, amenizam as severas consequências dos estresses causados pela ocorrência de seca associada a elevadas temperaturas (> 30 ºC) nas fases finais de enchimento de grãos e em pré-colheita;

  2. deve-se adotar, portanto, práticas corretas de dessecação em pré-colheita, sempre na fase ideal de aplicação (R7-maturidade fisiológica);

  3. o bom manejo de doenças e de pragas de campo podem reduzir a ocorrência do problema de sementes esverdeadas;

  4. observar a suscetibilidade genética dos genótipos de soja utilizados, uma vez que existem cultivares de soja que mais suscetíveis que outros à expressão do problema.

Quer saber ainda mais sobre o tema? Veja a matéria publicada aqui.