Não é possível pensar em aumento de produtividade sem passar pela qualidade da semente que será semeada. Para produzir mais, em uma mesma área, é preciso, antes de tudo, que se tenha material de alta qualidade semeado.
Em busca de assegurar essa qualidade, métodos de análise de sementes seguem em constante evolução e um dos enfoques mais consagrados e utilizados pela pesquisa, o conceito de Vigor de sementes, que ganha novas abordagens e possibilidades de análise, levando a indústria sementeira e o produtor de sementes a considerar novos contextos.
O tema rende no universo da pesquisa de sementes e foi abordado de forma brilhante durante o XX Congresso Brasileiro de Tecnologia de Sementes, pelos pesquisadores Júlio Marcos Filho (USP) e José de Barros França Neto (Embrapa Soja). Como a discussão segue atual e traz resultado para a lavoura, vale a pena relembrar.
Júlio Marcos Filho chamou atenção para a complexidade e a necessidade de se analisar os resultados obtidos nos testes de Vigor para que eles representem, de fato, uma informação que possa ser útil ao produtor. “Quando se fala em um resultado de 80% de Vigor, não se diz nada. Agora, se for informado que é 80% em teste de Tetrazólio, aí sim temos uma informação significativa”.
O resultado dos testes exprime a situação do material analisado naquele exato momento e variáveis como transporte, armazenamento e envelhecimento podem influenciar. “A deterioração não ocorre de maneira uniforme em diferentes partes da semente. Pode-se afirmar que a velocidade e intensidade de deterioração variam sob a influência da espécie, cultivar, lotes da mesma cultivar, sementes do mesmo lote e partes da mesma semente”, explica.
Nos últimos anos, o conceito de Vigor tem saído dos laboratórios e passa a ser utilizado pela indústria produtora de sementes e pelo agricultor. “Quando o produtor vai comprar a matéria-prima para a instalação da sua lavoura, ele está ciente da existência do teste de Vigor e muitas vezes tem exigido essa informação do produtor de semente”, observa José de Barros França Neto.
Prova disso é a mudança de comportamento das empresas que produzem e comercializam sementes. Muitas delas, já oferecem sementes com Vigor superior. “Mesmo sendo um material mais caro, vendem muito mais rápido, porque o produtor sabe que terá tranquilidade na implantação da lavoura. É um bom negócio para os produtores de semente e para o agricultor, que tem mais segurança”.
Para a semente de soja, os padrões de Vigor em teste de Tetrazólio no Brasil foram estabelecidos pela EMBRAPA, em 1998 e atualizados em 2018. E consideram como sementes de vigor muito alto àquelas com resultado superior a 90%. Alto vigor para resultados entre 85% e 89% e médio vigor para a faixa entre 75% e 84%.
Para França Neto, a pesquisa e a indústria só têm a ganhar com padrões mais rígidos e certificações que atestem a alta qualidade do produto. Para ele, esse é o caminho no combate ao uso de sementes piratas. “A melhor forma de se combater a pirataria é mostrar para o produtor que a semente oficial é melhor. O diferencial precisa ser comprovado e essa é uma das formas de se atestar a alta qualidade das sementes”, conclui.